domingo, 15 de março de 2009

Sóriso

Catarina era feliz, bem feliz.
Tinha bons pais, um irmão menor e teve uma boa infância.
Não sei o porquê, mas quando vi Catarina atrás do balcão da loja suja que entrei, eu vi algo diferente.
Quando ela me respondeu, eu percebi.
Não quis ficar olhando, mas Catarina não tinha um dente da frente, ou era quebrado, eu não fiquei observado os detalhes.
Era uma moça jovem, feia, sem sal, magrela e mal cuidada, mas tinha nome!
Ela também tinha um namorado, que gostava de mulheres com dente e com sal.
A mulher pálida sentia-se constantemente censurada. Tinha motivos pra sorrir, mas não podia.
Às vezes, enfrentando uma situação engraçada, desejava escancarar a bocarra e soltar uma gargalhada deliciosa e não, não podia. Tinha vergonha.
Vergonha não só por si, mas por aqueles que a acompanhavam.
Aconteceu que um dia ela brigou com o namorado, pois o pegou com uma mulher muito, muito feia, mas que tinha todos os dentes.
Foi dormir chorando e querendo perder todos os outros dentes que possuía, assim, não haveria gritante diferença, ficaria por de tudo banguela, horrível e simétrica.
...
Quando acordou, não reconheceu o lugar.
Foi andando e vendo pessoas bonitas e feias, tanto fazia, mas todas não tinham o dente da frente ou o tinham quebrado, o de cima ou o de baixo, ou o do lado, mas todos numa visão de frente.
Todos sorriam na vila do meio sorriso, todos gargalhavam.
Grupos se reuniam para contar piada e poder tirar o atraso das risadas censuradas.
Distraída com tanta gente igual a si, Catarina tropeçou e caiu.
Quebrou e ficou sem nenhum dente na boca e começou a rir, ali mesmo, sentada no chão, e todos os novos conhecidos riram junto.
Era a Terra do Sóriso!!

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