terça-feira, 25 de outubro de 2011

Impressões (de novo)

Eu vi uma mulher do cabelo abóbora.
Enquanto eu procurava sardinhas no rosto dela, embora ainda de longe visto que eu estava sentada,ela se equilibrava no vagão do metrô.
Eu vi uma mulher do cabelo abóbora e, enquanto eu procurava sardinhas no rosto dela, ela olhava vidrada a tela do telemóvel.

Eu vi uma mulher do cabelo abóbora e, enquanto eu procurava sardinhas no rosto dela, ela sorriu para o telemóvel.

Aposto que isso é coisa de quem tem amor.

domingo, 16 de outubro de 2011

saudade só.

Querido P.

Acordei com a coluna do Caetano no jornal O Globo falando sobre o novo filme do Almodóvar. O caso Espanha-Brasil e as músicas brasileiras sempre tão bem habitadas nos filmes de Pedro, sua relação com o Brasil, e um etc que não me importa. O fato é que não sei se por isso ou se por fazer um sol tremendo por aqui, mas acordei com uma saudade danada de uma Espanha que nem sabe o que significa a palavra - aposto que só a palavra - saudade. Acordei com uma falta de querer ouvi-los falar "Me encanta. Muito me encanta." em um espanhol carregadíssimo. É uma coisa linda de ouvir. Uma saudade só dos terraços cor de laranja de Madri e das ruelas de Barcelona. Decidi que quero te levar a Espanha, P.

Um beijo, saudade.

Preta.

Dia de estufa

O dia acordou quente em Copacabana. Quente sem sol. Nublado, abafado. Um dia que o dia tá de mau humor em plena sexta, um dia que o dia tá de saco cheio.
O dia acordou abafado em Copacabana, de um jeito denso que, logo cedo, parecia que enquanto eu andava, as nuvens estavam cá pertinho da minha cabeça, me sufocando sem dó. Dia insuportável. Na chegada a Central do Brasil eu vi muita gente desembarcando. Três escadas rolantes cheinhas e mais uma porção esperando pra subir o degrau. Na volta eu vi muita gente embarcando, toda aquela gente toda de mais cedo. Gente me sufoca como nuvem em dia denso.
Só me deu vontade de escrever porque eu pensei nesse verso quando parei pra pensar o dia: O dia acordou quente em Copacabana.
Hoje eu cheguei a Barra Mansa. Aqui também tá quente. Eu gosto daqui, mas tenho achado muito feio, como não percebia antes. Desculpa.
No meu quarto aqui, eu vejo uma porção de frases que escrevi um dia na parede. Ali vejo um pouco do que fui: alguém com mais versos do que falar sobre o tempo. Falava de poesia que desaba por dentro, falava de que não seria nada, falava qualquer coisa de sonho, de verso, de gente. Hoje falo de tempo.
E falar do tempo é falta de assunto.

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