quinta-feira, 9 de junho de 2011

O que tenho pra mim é que as pontas dos dedos da minha avó, em sua palma, já tinham a forma dos meus, na medida em que eu gostava de pressioná-los.

Ela não tinha muito o que ver com minha avó.
Tinha os dedos a fazer lembrar.
Sentada ao meu lado no ônibus de ida, ela ligeira não demorou em preguiça de chochilo ou essas coisas, tirou de uma sacola retalhos de pano.
Retalhos que não por assim serem eram de qualquer medida. Na verdade, eram cortados em rodelas como quem vai fazer fuxico, mas dali saiam outras coisas que não sei bem pra quê.
Eu sei que ela tinhas aqueles dedos.Na verdade não os dedos, porque os dedos da minha vó, tenho pra mim que não acho mais. Eram dedos que lembro bem a forma como se encaixavam ao se encostarem nos meus. Eu lembro muito bem dos dedos das mãos da minha vó para descrevê-los. Nasciam grossos da palma e assim vinham até que na ponta se formavam de um jeito quadrado, como que um calo, um joanete, não sei. Mas o que me marca mesmo é a superfície das palmas dos dedos. Delícia. Às segundas que ficava com ela até mais tarde, me lembro dessa superfície lisa meio plástica apertando contra meus dedos. O que tenho pra mim é que as pontas dos dedos da minha avó, em sua palma, já tinham a forma dos meus, na medida em que eu gostava de pressioná-los.
Mas voltando à mulher do ônibus de ida, não eram os dedos, mas a forma de passá-los no tecido. Ela tinha um cuidado medicinal na forma com que dobrava as rodelas, alisava a meia lua formada e passava a linha.
Eu não sei quem era aquela mulher, ela não parecia a minha avó, eu não sei se os dedos pareciam, também não sei da forma de passar. Talvez nem tivessem tecidos, ou dedos, ou jeito, ou mulher no ônibus de ida.
Eu é que estou com saudade dos dedos, da vó, do beijo que a vó mandava com um dedo só.

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