quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Por alguns dias perdera o viço.Empalidecera assim de cara. Meio amarela. O corpo não obedecia com tanta destreza, pesado.
Os peitos pareciam carregar duas pedras.A barriga, uma.
Pesada.Mole.De repente, veio uma dor meio funda contornando toda a região abdominal, e ela se contorceu na areia.Sentiu entre as pernas,um líquido quente.Passou a mão, era sangue.Julieta criada sem mãe e sem avó achou que iria morrer.Ainda sem agüentar muito o próprio corpo correu até uma antiga venda abandonada e se deitou.Deitou e esperou a morte.Sangrou, sangrou, sangrou. Por três ou quatro dias ficou ali. Parada. Deitada, sangrando e esperando a morte chegar. Sozinha. Sem mãe, sem avó. Mas Julieta não morreu, e depois parou de sangrar, voltou à lida.



Há algum tempo se sentia meio estranha. Mas Julieta não se preocupava muito em sentir.Ela não sabia muito bem o que era sentir.Mas naquele dia começou a sentir uma dor muito forte.Dor, Julieta sabia o que era, e que sentia. Por alguns dias perdera o viço. Empalidecera assim de cara. Meio amarela. O corpo não obedecia com tanta destreza, pesado.
Os peitos pareciam carregar duas pedras. A barriga, uma.
Pesada.Mole.De repente, veio uma dor meio funda contornando toda a região abdominal, e ela se contorceu na areia.Sentiu entre as pernas,uma coisa.Fazendo força, urrando, suando, sentindo, sentindo, Julieta sentia.E de dentro de Julieta, saiu uma pessoa, uma criança nascida.Sozinha.Sem mãe, sem avó.Julieta sentiu, e depois parou de sentir, voltou à lida.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Branco

Adoro ficar parada ouvindo o som do silêncio.
E os sons que rasgam o ar.
Como uma única mosca que sozinha está a 1 km de mim.
Como o ar sendo empurrado por um ventilador distante (De onde vem o vento?)
Como o som da minha voz sussurrada que cutuca o ar e rasga o silêncio.
Adoro ver o silêncio.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sobre dois

(para Filipe Alves e Jaisah Farah)

De repente, ainda vejo aqueles três jovens ali.
Naquela noite, escolhemos o escuro pra nos despir.
Quando vi, assim , de longe de mim,estávamos nus de alma,sentados, parados, falando.
Ela não parava de fumar, eu de chorar e ele de falar frases alternadas com risadas nervosas.
De repente, falamos tudo. Tudo o que nos continha.
O que nos continha,nos freava.
O que nos continha, o que tínhamos dentro de nós.
Três costas olhando pro nada.Não lembro se tinha lua, mas era noite.
Hoje eu sinto muita falta de vocês.Às vezes me pego achando que vocês foram duas das maiores razões por eu ter parado naquele lugar assim, pela vida.
Hoje vejo cada um indo pra um rumo diferente,
mas ainda os vejo ali, os três
parados
chorando,fumando, falando
e amando.


Amo vocês,
beijos, da Isa mongol.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

15 de fevereiro





Segunda-feira de carnaval.
Ainda a imagino assim. Linda.
A mãe,uma personagem cigana, no meio dos foliões, sente a contração.
Pára.E Pari.
Pára ali e nasce ela.
Eu ainda a imagino assim. A mãe estirada no chão, com
uma languidez de quem traz gente ao mundo.
E ela,
saída de uma vida, para outra.
Entre confetes, entre serpetinas.
O mundo que resolveu fazer para ela uma festa.O carnaval.
O mundo que criou música digna dessa festa. O samba.
O mundo que há anos e mais anos
festeja muito mesmo antes de ela nascer.
Pode ficar bonito se pensarmos que
o mundo faz essa festa há muito esperando o dia em que nasça dela, Ela.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

De fevereiro

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

(Carlos Drummond de Andrade)



Quando nasci veio um anjo safado
O chato do querubim
E decretou que eu estava predestinado
A ser errado assim.

(Chico Buarque)




Quando eu nasci, não veio anjo nenhum.
Era fevereiro e
tavam todos pulando carnaval.

(Karol)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Peixe

Silenciosamente e devagar escrevo
pra ouvir o som da caneta (preta) riscando o papel (branco). Dessa vez, escrevo.
Ainda não lembrava do prazer que as fitas me traziam.
Foi portando meu malabares laranja laranja que subi ao céu.Meu céu.Meu céu com chão cimentado.O telhado do meu quarto, o princípio dos meus sonhos.

(Calma!Escreva mais devagar para que eu possa notar as curvas dessas letras femininas e a sonoridade da caneta que risca.)

Lá fiquei. Fiquei até que a próxima música que tocasse,aleatoriamente, decidisse meu próximo destino.
Lá fiquei até que aparecesse, ou até que eu visse, a primeira estrela daquela tarde.
E foi bom perceber que em mim ainda mora uma menina doce, que olha estrela e chora, abaixando a cabeça assim de lado, sorrindo chorando.
-Au revoir! - disse a menina, que mora em mim, às nuvens.
E mais tarde foi ver o corpo colando molhado no azulejo.
E mais tarde o caetano cantando sobre samba, sobre amor e sobre até mais tarde.
E então caiu de cansaço, sorriu, e dormiu.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

hoje, sem poesia

Eu queria nunca ter ido pra Rural, assim eu não sofreria tudo que eu sofro com a falta dela.
E abdicar de todos os prazeres que me foram dados lá?E abdicar de tudo e todos que conheci e das experiências que tive?

Eu não sei, merda, eu não sei.
Eu não sei e estou cansada de minhas próprias perguntas.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O corpo mudo.

"Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu." Nelson Rodrigues.

-Sabe, eu ouvi uma frase do Nelson Rodrigues esses dias que me fez pensar uma coisa...
-Qual?
-Não lembro, mas era alguma coisa como o rosto é indecente, o corpo não é...
Eu tava até conversando com o Filipe depois, quando ouvi isso.Eu acho isso muito verdade.O rosto tem muito mais chance de variação do que o corpo.O corpo tá ali. Tirando as variações dos dois sexos, só muda a cor e se é mais cheio ou menos cheio.
-Claro que não, Isabela. O corpo pode variar muito também. Tem gente que tem mais peito, menos peito, quadril maior, barriga caída, perna grossa...
-Eu acho, portanto, que seria válido usarmos miniburcas, assim, de forma que só cobrisse o rosto. Como se a roupa ao invés de ser no corpo, fosse no rosto. E andaríamos nus...
-Nossa, que cena linda, heinh?
-Não, não. Eu acho que teríamos que usar cueca e calcinha também, por uma questão de higiene.Afinal,ninguém fica esfregando o rosto em cadeira, né?
-Hahahahaha. Que idéia louca! Eu ainda acho que o corpo varia...
-Tá, pode variar. Mas o corpo não seduz. O corpo não é nada. O corpo fica ali parado, sem identidade. O corpo é só instumento. Ele não fala, ele não envolve. Ele é cru.Ele é morto.
-É...Tem gente que fala com os olhos, né?Em compensação, tem gente que não fala nem com o rosto.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

"-Apenas não se esqueça do que aconteceu ao homem que conseguiu ter tudo o que desejava...
- o que aconteceu?
-ele viveu feliz para sempre."

Seguidores