terça-feira, 31 de agosto de 2010

Agosto

E desde então, todos os outros meses foram Agosto.
Quando ele a deixou e ela não sabia de todo sentimento que guardava em si,
quando ele a deixou, ela esperou por Agosto, quando ainda era Junho.
Ela passou a crer como quem passa a crer em Deus, que em Agosto, ele voltaria para ela.
Como quem entende, ela entendeu por assim querer entender, que ele a havia deixado por ela não morar ali ainda em Junho.Mas em Agosto, ela moraria, ele voltaria.
Agosto de quem chega, Agosto chegou.
Ela chegou, ele estava, eles não estavam.E já era Agosto.
E como quem crê em Deus, ela acreditava em Agosto, portanto, para ela,
desde então, todos os outros meses foram Agosto: o primeiro mês que ele voltará para ela, embora já estejamos em fevereiro.

domingo, 29 de agosto de 2010

Vivo de sentir saudade.
saudade da infância:
Vila Déa, colégio, pular elástico.
saudade de ontem:
risadas, bar.
Sinto saudade da Rural(muita),
de quem já se foi(saudade do bolinho de chuva da Vó Edith, das canções da Beta),
saudade de uma roda de violão na época de colégio,
saudade de uma paisagem de janela decorada,

saudade de um sonho
ou saudade de ter um sonho.

Vivo de sentir saudade, saudade de quando faz tempo
e saudade de quando escrevi esse primeiro verso.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Destino,Barra Mansa.

Rio, 24 de Agosto de 2010

Querido O,

Confesso que estou muito feliz por você estar feliz.Por você estar sendo correspondido por alguém de alma bonita, mas, principalmente, por você estar vendo o mundo colorido, que é o mais importante:
Isso é uma coisa de felicidade que é sua, só sua e só você consegue entender...
acho que chama amor.

Beijos de uma saudade louca,

Isa.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Displicência

Quando a vi se chamar por Teresa, parecia haver uma visão de coisa fora do mundo.
Quando a vi assim, de outono, como quem chega de cambaleio (coisa de quem se perde),
vi que precisava escrever.

É preciso escrever alguma coisa sobre pele.
Sobre qualquer coisa como uma displicência no jeito que gera uma beleza.
Eu não sei sobre esses dias que se dá na mulher
Essa coisa da fêmea de ficar meio tom pastel.
É preciso escrever alguma coisa sobre um jeito de andar meio lunático
Meio absorto em qualquer coisa que transcende, meio nuvem.
É preciso que se tenha uma beleza meio fora, meio ausente, meio
De quem se evapora
Estou vendo muita beleza nessa coisa toda de quem é.
Há de se escrever alguma coisa sobre displicência.

Teresa bonita, antes ligada, intensa, cheia de coisa com cor, alguma coisa a ver com sol e malemolência. De repente, Teresa meio pálida, meio displicente. Uma Teresa bonita, meio avulsa, meio volúvel, meio efêmera. Como se tivesse de pegar Teresa pela mão, se não pega, ela voa. Teresa pode me escapar toda, meio névoa.

Há de se ter essa beleza. Uma beleza de Teresa, uma beleza meio reticências, meio olhos no céu, meio displicente. Uma beleza meio erguida na melancolia. Qualquer coisa de triste.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Domingo

E então eu, uma menina de uma família de cinco, que tem três sendo homens viciados em futebol, reservei-me a missão de odiá-lo, visto que ele estava o tempo todo na família na casa na rua na chuva ou na fazenda.O futebol sempre foi o meu “barulho de domingo”.Eu associei, por muito tempo e talvez ainda, o domingo ao futebol, ou melhor, ao barulho, ao ruído, ao chiado insuportável de.
Apesar de tudo isso, sempre cultivei a vontade de ir ao maracanã. Eu falava que queria ver a energia, a muvuca, o tumulto, os gritos, as paixões tão solidificadas como parecia ser.
Foi então que como uma experiência antropológica, eu fui.
Além de achar bonito e emocionante, desde a entrada, até quando vai subindo pra arquibancada e se vê de fora aquela pontinha de um mundo de gramado, além de, há algo que preciso muito falar.
Estava eu no jogo, tentando entender o jogo pelas cores das camisas e tentando descobrir sozinha onde o time tinha que fazer gol, quando aconteceu.
O gol.
Eu não estava ali por um time, assim, de verdade...
Eu sempre falo que sou botafoguense para tentar suprir o trauma do meu pai em ter um filho flamenguista e outro tricolor. Mas a verdade é que eu nunca assumi um time, nunca amei um time, etc.
Eu estava na torcida (linda- desculpa, pai)do fluminense e, dessa forma, mesmo que eu não torcesse, eu tinha que fingir que.
Mas eu não fingi, eu torci (desculpa, pai).
Enfim, sem mais digressões: Eu tava ali no maraca, na torcida do Fluzão, vendo o jogo e saiu um gol.
Quando eu vi, eu tava gritando e comemorando. Acontece que eu senti.
Eu senti uma coisa muito delícia, não sei o que. Eu só sei que foi assim que eu entendi a paixão que as pessoas tem pelo futebol, pelo seu time, etc.É que a partir daquilo, eu passei o resto do jogo todo sofrendo e lutando muito pra sentir aquilo de novo.Eu só queria um gol, só isso.
Eu não sei por que eu queria um gol, não sei qual o fundamento filosófico ou social de um gol. Sei que um gol não vai diminuir a fome na África, nem vai ajudar na análise sobre os meninos de rua, nem vai fundar uma teoria sobre sobre sobre nada. Eu sei que eu não via função social no gol,nem nenhuma função de coisa nenhuma, mas eu o queria. Eu o desejava de uma forma mais intensa, como se tudo que eu quisesse naquele momento fosse só isso: um gol.
Era um desejo cru,e eu acabava achando isso muito bonito em mim.
A conclusão é que eu não sei se foi só uma experiência antropológica válida, se eu tô me rendendo ao futebol (droga, não quero!), ou se eu sei lá.
Eu só sei que ontem eu fui ao maracanã de novo, pra sentir de novo o que eu senti. E o flu fez três, e eu fiquei feliz.

sábado, 14 de agosto de 2010

Ana K.

Era uma vez uma menina que chamava Ana Karolina com K e por ser assim vivia de não gostar desse K desse nome que ganhou e que podia ser bonito com C: Carolina.
Apesar de ter esse mal de mágoa com o mundo, Ana Karolina não deixava de preencher meu coração com pequeninas alegrias em doses diárias.E como homeopatia, Ana K, foi me levando a um tratamento até que eu gostei dela por completo.
Hoje Ana K faz parte do meu pedaço no mundo.Hoje a batizei de Ana K.
Quem sabe ela gosta?

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Mas hoje me permito sofrer por amor, mesmo sabendo que há fome na África.

Quando meus pés cruzaram a portaria foram os mesmos que desceram o elevador e abotoei o último botão esquecido da blusa na hora que cruzei a porta, batendo-a devagar pra não acordar ninguém do apartamento que eu saí me despedindo com os olhos da telelista que fica em cima do guarda roupa e do livro TRO PI CÁ LIA que está em cima dos seus vinis.Porque foi antes do meus pés cruzarem a portaria que eu comecei a sentir a dor.
Foi quando ele começou a falar e não consegui mais me mexer.
Falência múltipla dos órgãos esclerose múltipla acelerada instantânea paralisia facial corporal.
Eu sabia que a dor era mental. Eu sabia que era psicológica.Cabeça. Cerebral.
Mas continuei ali,sentindo a dor. Eu queria sentir a dor como quem se pune. Opus dei de mim.Eu queria sentir toda a dor. Penitência física. Mortificação corporal.
De repente, o que era mental ficou tangível demais e eu já o sentia no meu corpo.
Ainda estava paralisada.
Eu não sabia onde doía. A dor produzida pela cabeça tinha sofrido metástase e eu não conseguia saber onde doía.Não tinha modo de estancar o sangue.Não tinha sangue. Era dor interna.E continuava paralisada.
Foi quando ele começou a falar que começou a dor e que não consegui mais me mexer.
Depois os olhos começaram a passear e eu comecei a decorar o apartamento, paralisada, para poder guardá-lo pra mim.
Eu decorei aquelas falhas na parede que tem ao lado da cama e também como o fio da luz vem do teto e chega ao interruptor por uma espécie de caixinha branca que deve ter por função social esconder fios.Eu decorei o apartamento e vi que no dia que comecei a sentir a dor, antes dos meus pés cruzarem a portaria, havia dois copos esquecidos sujos na mesa do computador.
Como quem se despede do apartamento.Como quem chora.
Eu não sei que dor é essa.Eu sei.

Eu sempre bati pé que problema na vida era morte ou doença.
Mas hoje me permito sofrer por amor, mesmo sabendo que há fome na África.
E dói.

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