segunda-feira, 1 de junho de 2009

O fantástico mundo de Luísa

Ela morava em um mundo só dela.
Um mundo onde não se podia excluir as coisas, assim como não se deveria fazer com as pessoas.
Se precisasse escolher uma roupa, tinha mesmo um medo interno de que a outra roupa fosse chorar dentro do armário quando fosse guardada ali, rejeitada, tadinha.
Assim com tudo, sapatos,comida...
Mesmo com comida, que a menina não gostava de comer nada, mesmo assim.
É aí que entra a história.
Um dia, a mãe de Luísa, arrumando seu quarto, achou um potinho,era um cofrinho, em formato de coração, nele estavam umas sete batatinhas fritas, quase podres.
Coisa mesmo estranha.
Luísa havia guardado as batatinhas ali.
No almoço, hora que Luísa mais detestava, havia batata frita.
Ela gostava muito de batata frita.
A mãe mandou que ela acabasse de comer, mas ela não queria mais...sabe? Tava toda cheia assim, barrigão.
No entanto, Luísa via aquelas pobres últimas batatinhas.
Qual o problema com a sorte delas? Elas não tinham culpa de não terem sido atingidas pelo garfo antes, e terem sobrado ali, no prato, como aquelas meninas que sobram no final da escolha de time.
Sim, porque batatas eram meninas, as batatas.
Luísa olhava o lixo
Lixo sujo, do mal. Parecia ter uma cara de que ia se vangloriar em pegar todas aquelas batatinhas indefesas para si, para ir para o mundo dos sujos junto com ele e o homem do saco.
Luísa não pensou duas vezes. Tomou as batatas pela mão e colocou no potinho, para que elas não fossem levadas para aquele mundo e estivessem ali com ela, protegidas, sem choro.
Luísa não teve mais apetite e as batatas passaram a morar ali, com ela, até que sua mãe as achou e jogou no lixo.

O lixo da mãe não tinha cara, nem as batatas gritaram e começaram a chorar.
Quando a mãe as pegou e jogou no lixo, não teve história, nem drama,
nem vozes fininhas das batatinhas, nem risada maligna do lixo.

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