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A mulher nunca havia se apaixonado, não se orgulhava disso, mas não deixava
de ser deliciosamente desafiador.
16:37, tarde de inverno. Céu azul, sol, dia
de semana normal. Seria, não fosse o que iria ocorrer na vida da
mulher.
Marina subiu para a cobertura do prédio mais alto da pequena cidade
que morava, ligou a música e ficou a observar.
O sol estatelando na cara e no
corpo dela, o samba de Jorge Ben que tocava em seus ouvidos. A cidade.
A
cidade seguia no seu ritmo normal, mas com a música, ela sambava também.
Os
carros sambavam no viaduto. Dona Teresa passava com sacolas de compras.sambando.
O andar de Luciana, a vizinha mais chata de Marina, tornou-se mais leve, porque
Luciana sambava enquanto reclamava com os homens do lavador de carros. E Marina
ria, ria insuportavelmente feliz de toda a situação.Quando viu, também sambava.
E imaginava ser cada mulher da Pavuna Terezinha Denize rei de Jorge vestida
todinha de rosa ou de branco a girar que maravilha. Foi quando viu sua sombra na
parede, sambando, os cabelos cacheados rodando com o ritmo da música, pés
descalços, vestido engolindo o corpo de malemolência de Marina e, de repente a
mulher parou.
Sentiu dentro de si com o calor delicioso do sol na cara e no
corpo um sentimento nunca antes experimentado. Uma vontade de dar a mão para
aquela sombra e ir pra qualquer lugar que tivesse um céu azul, mais nada. Uma
vontade de dar a mão para aquela sombra e pular de um penhasco morrendo de rir.
Marina havia se apaixonado pela primeira vez.