domingo, 26 de julho de 2009

nuvem

A poesia foi dormir amanhecendo, pois ficou entre um whisky e outro discutindo literatura no bar, ali na esquina do sonho com a razão.
Dormindo serena sorrindo simpática de se ver em um lençol de fundo branco decorado por grandes flores, ela acordou perto de meio dia, mas pelo sol de inverno, parecia ser pouco mais de oito.
Acordou com a liberdade fazendo carinho no seu rosto, veio um ventinho de descompromisso que fez cócegas entre seus dedinhos do pé e ela resolveu abrir devagar os olhinhos, espreguiçando ainda.
Hoje a poesia acordou cantando, foi tirada pra dançar e virou música!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Com quem será?

Eu estou ali, na hora do parabéns
estão todos sorrindo
batendo palmas, cantando para mim
eu estou olhando o bolo bonito, as velas

mas não sei onde colocar as mãos.
"e ela tem razão quando vem dizer que eu preciso sim de todo o cuidado
e se eu fosse o primeiro a voltar pra mudar o que eu fiz
quem então agora eu seria?
ahh... tanto faz e o que não foi não é
eu sei que ainda vou voltar
mas eu quem será?
e se eu for o primeiro a prever e poder desistir do que for dar errado

se não sou eu,quem mais vai decidir o que é bom pra mim?
(dispenso a previsão)

se o que eu sou é tambem o que eu escolhi ser
(aceito a condição)

vou levando assim,que o acaso é amigo do meu coração."
Rodrigo Amarante.

domingo, 19 de julho de 2009

.Vivo sonhando com o dia em que voltarei a sonhar.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

"Eu era um jovem louro e saudável quando adentrei a baía de Guanabara, errei pelas ruas do Rio de Janeiro e conheci Teresa. Ao ouvir cantar Teresa, caí de amores pelo seu idioma, e após três meses embatucado, senti que tinha a história do alemão na ponta dos dedos. A escrita me saía espontânea, num ritmo que não era o meu, e foi na batata da perna de Teresa que escrevi as primeiras palavras na língua nativa. No princípio ela até gostou, ficou lisonjeada quando eu lhe disse que estava escrevendo um livro nela. Depois deu para ter ciúme, deu para me recusar seu corpo, disse que eu só a procurava a fim de escrever nela, e o livro já ia pelo sétimo capítulo quando ela me abandonou. Sem ela, perdi o fio do novelo, voltei ao prefácio, meu conhecimento da língua regrediu, pensei até em largar tudo e ir embora para Hamburgo. Passava os dias catatônico diante de uma folha de papel em branco, eu tinha me viciado em Teresa. Experimentei escrever alguma coisa em mim mesmo, mas não era tão bom, então fui a Copacabana procurar as putas. Pagava para escrever nelas, e talvez lhes pagasse além do devido, pois elas simulavam orgasmos que me roubavam toda a concentração. Toquei na casa de Teresa, estava casada, chorei, ela me deu a mão, permitiu que eu escrevesse umas breves palavras enquanto o marido não vinha. Passei a assediar as estudantes, que às vezes me deixavam escrever nas suas blusas, depois na dobra do braço, onde sentiam cócegas, depois na saia, nas coxas. E elas mostravam esses escritos às colegas, que muito os apreciavam, e subiam ao meu apartamento e me pediam que escrevesse o livro na cara delas (...)
Foi quando apareceu aquela que se deitou em minha cama e me ensinou a escrever de trás para diante. Zelosa dos meus escritos, só ela os sabia ler, mirando-se no espelho, e de noite apagava o que de dia fora escrito, para que eu jamais cessasse de escrever meu livro nela. E engravidou de mim, e na sua barriga o livro foi ganhando novas formas, e foram dias e noites sem pausa, sem comer um sanduíche, trancado no quartinho da agência, até que eu cunhasse, no limite das forças, a frase final: e a mulher amada, cujo leite eu já sorvera, me fez beber da água com que havia lavado sua blusa."

Budapeste- Chico Buarque

Limpe bem a casa que eu vou chegar pro jantar. Você sabe, sempre gostei de sentir cheiro de chão limpo enquanto subia as escadas. Quero que você faça aquela macarronada, porque eu to trazendo um bom vinho. Coloque a toalha de linho branco, os talheres de prata do nosso faqueiro de casamento que a Tia Lourdes deu, os guardanapos de pano e ah, se der, coloque aquele vestido amarelo rodado que tem uma faixa de cabelo para combinar? E os sapatos, aqueles brancos assim de ponta redonda e saltinho. Você sabe, eu sempre te disse que você com essa roupa fica a dona de casa que eu sempre sonhei em ver quando chegasse cansado do trabalho, como hoje.Você fez faxina? Quero que os vidros estejam brilhando, refletindo nossos sorrisos nesse jantar e, coloque umas velas também, para dar aquele clima que você sempre gostava de fazer nos primeiros meses de casamento, não, eu não tô dizendo que achei que fosse ser assim pra sempre mas...trouxe flores, amarelas para combinar com seu vestido!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Julho.

Para sempre me lembrarei daquele Julho de 2006.
Que eu esteja com família e filhos pequenos, em julho, eu ainda me lembrarei daquele julho de 2006. Que eu esteja velhinha e com netos rapagões, em julho, eu ainda me lembrarei daquele julho de 2006, mesmo que você já não esteja mais comigo, como estava naquele julho de 2006.
Depois desses anos, eu ainda não consigo descrever o que aconteceu exatamente naquele mês.Na época, lembro-me que eu tentei descrever, escrever, dizer, mas, na verdade, eu acho que nunca conseguirei passar a ninguém como eu me senti.
Posso dizer que fui transportada para um lugar,o mais lindo que se possa existir.Parada na Cidade Maravilhosa, entre buzinas, sol, artistas, praia, shoppings,teatro eu não estava ali.Cheguei ao Rio e encontrei algo como um portal da cor de azul céu mais que belo e ali entrei. Havia música, as minhas preferidas na época, havia explosão de cores, eu e você. Parece tão clichê,porque também havia praia, mas eu juro que não era bem assim.Porque durante aqueles dias que ali fiquei, eu só vivi nesse lugar e não conseguia, em momento algum, desgrudar os olhos daquele portal azul, eu não conseguia me manter ali, na realidade, quando eu via, estava lá.
Eu queria que todos os julhos fossem como o Julho de 2006, eu só queria poder voltar para aquele lugar, assim, sem nem ter que comprar passagem.
Aquele lugar parece me completar, reabastecer minhas energias, é a praia mais bela que há.Não é o Rio de Janeiro, nem Fernando de Noronha, nem Costa do Sauípe, eu não sei o nome do lugar, eu não sei e não preciso saber, por favor, eu só preciso voltar, voltar em todos os meses de Julho da minha vida.

domingo, 12 de julho de 2009

pedido.

Andamos 2km olhando para o céu.
Fizemos poemas pra estrela que, como nós, estava solitária no céu, ao lado da lua.
Solitária, ainda brilhava. Lindamente.
Andamos 2km olhando para o céu.
Exaltamos nossa juventude, os beijos dos minutos anteriores, os casos mais sérios, os desesperos, as dores, a política.
Amanhecia.
Cantamos cazuza e andamos 2km olhando para o céu.

Meu sonho na vida, assim, quando eu crescer, é ser completamente louca!

"Minha terra tem palmeiras, onde canta o pica-pau.
Não permita Deus que eu morra sem que eu volte pra Rural" , por favor.

sábado, 11 de julho de 2009

Loki.

Mutantes é a personificação da psicodelia.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A mulher nunca havia se apaixonado, não se orgulhava disso, mas não deixava
de ser deliciosamente desafiador.
16:37, tarde de inverno. Céu azul, sol, dia
de semana normal. Seria, não fosse o que iria ocorrer na vida da
mulher.
Marina subiu para a cobertura do prédio mais alto da pequena cidade
que morava, ligou a música e ficou a observar.
O sol estatelando na cara e no
corpo dela, o samba de Jorge Ben que tocava em seus ouvidos. A cidade.
A
cidade seguia no seu ritmo normal, mas com a música, ela sambava também.
Os
carros sambavam no viaduto. Dona Teresa passava com sacolas de compras.sambando.
O andar de Luciana, a vizinha mais chata de Marina, tornou-se mais leve, porque
Luciana sambava enquanto reclamava com os homens do lavador de carros. E Marina
ria, ria insuportavelmente feliz de toda a situação.Quando viu, também sambava.
E imaginava ser cada mulher da Pavuna Terezinha Denize rei de Jorge vestida
todinha de rosa ou de branco a girar que maravilha. Foi quando viu sua sombra na
parede, sambando, os cabelos cacheados rodando com o ritmo da música, pés
descalços, vestido engolindo o corpo de malemolência de Marina e, de repente a
mulher parou.
Sentiu dentro de si com o calor delicioso do sol na cara e no
corpo um sentimento nunca antes experimentado. Uma vontade de dar a mão para
aquela sombra e ir pra qualquer lugar que tivesse um céu azul, mais nada. Uma
vontade de dar a mão para aquela sombra e pular de um penhasco morrendo de rir.
Marina havia se apaixonado pela primeira vez.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Vovó e Vovô passeiam

Vovó e Vovô passeiam
Dão nome a pequenina cidade que tem
praça sorvete
igreja jardim
Vovô contou para Vovó de quando viu aquela casa ser
construída
Vovó disse que já não suporta mais tanta repetição
Na vida
social de vovô e vovó
Caminhada cedinho café da manhã sem doce para vovó
diabética
Ele gulosinho que gosta de comer doces
Almoço quentinho fumaça
que sobe da panela é casa de vó de cabelos branquinhos com biscoito
amanteigado
Soninho da tarde roncos adoráveis
Mais de 60 anos de
ouvido
Vovó e Vovô passeiam

Caminhada da tarde. Ele conta que saltou de um bonde carioca para que ela o visse e quebrou o braço . Fratura de amor. Ele conta que seu pai lhe disse que ele estava se embriagando no primeiro gole de primeira namorada hoje sua mulher há 60 anos de ouvido de ronquinhos no final da tarde de passeio pelos paralelepípedos que parecem contar histórias. Histórias de Vovô e Vovó.

Eles não sabem, mas eu conto o segredo que não podem ver:
no peito de cada um,assim, embaixo dos panos de camisa, pulsando no
coração, há um porta jóias lindo, daquele que se carrega com a foto do
amado,antigo, em forma de coração brocado em dourado prata e pedras preciosas.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Meus oito anos

(em 2050)

Oh que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais

Livre filho no playground,
quando a babá vinha
atrás de minhas pequenas travessuras.-Eu nem me sujava!
Naqueles tempos ditosos
ia colher meus jogos de videogame
trepava na cadeira do computador para fazer meu orkut
brincava no MSN


Naquelas tardes fagueiras,
Sem nenhuma bananeira
(Porque banana nasce no supermercado.)
De frente pra tela da televisão.

Oh que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais

Oh dias de minha infância,
Oh meu céu de apartamento !

50'

Pegou na minha mão de leve quando senti cheiro de flor
Daquela que tem uma cara assim de
botão de rosa chá
Que jeito de boneca é esse?
Tem cílios de Emília
Cabelos curtos pretos lisos anos 50
A mulher que parece uma menina perdida no ano 2000 ia tomando seu capuccino e falando frases que eu não conseguir entender
o som tava bloqueado no ambiente.
Bloqueado pelo cheiro que vinha dela
Eu só via a boca se mexendo em expressões de cara de quem triste e vem desilusão.
Um sorriso.
porque a mulher que pode ser tão romântica ao portar pérolas muito antes de qualquer mulher acredita .
Acredita em flor, amor e outras rimas.

.
.

A história costuma se repetir.

Julieta e Isolda.
Imperadores. Golpes militares.Ditaduras. Revoluções.
Eu não sei se chegam a ser
tão fielmente parecidos, mas

A história costuma se repetir.

O que vale é que, quando Romeu achar Julieta morta, saberá que ela não estará, na verdade,morta porque

A história costuma se repetir.

Então ganha a graça, porque Romeu só vai se matar,
novamente,
se quiser.

No silogismo brilhante:

A história costuma se repetir.

( se você quiser.)



.

sábado, 4 de julho de 2009

Biscoito expresso.

Tô contemporânea cheirando a café.
Tô querendo um chá pra discutir
filosofia.

Encanta-me a capacidade lingüística dos nobres de
eloqüência
além da forma como se expressam
(d i c ç ã o )
ao abrir
bocas cheias de dentes e
são tão filósofos.
são tão atores.

Quero esse mundo pra mim.
Terra deles tem som de aplausos.


O problema é que eu já cansei. Eu canso rápido. Intensa na maneira de viver, eu já vivi dois séculos e você ainda tá falando a mesma coisa que eu já mudei de assunto há 10 segundos. Vamos pra outra, meu bem. Senta aqui toma uma dose comigo acende um cigarro dá uma relaxada. Mas não vem de papo brabo. É que eu to cansada.Não, não há tristeza, sem drama. Só me permito tristeza em Paris, ouvindo Piaf.O resto que sinto é misto de raivinha que me impulsiona a viver e a rir, gargalhar.Mas eu não ligo mais, de jeito nenhum, pra essas caras tristes fingindo que a gente não existe. Eu to me sentindo bem aqui.Mais uma dose!Ela tá chorando porque as amigas que usam grife fingiram que não a viram e eu a convidei para bailar muito, aprendi com a vida!E se você passar na rua e não me olhar, eu também não te vi, juro! Sou míope!Faz o favor de não falar muito, não me procurar muito, cada um pro seu lado e, quando a gente se encontrar, eu limito o tempo do beijo, se eu quiser beijar.Não fica me ligando,tá? Vamos jogar nossos celulares do penhasco e depois morrer (de rir) e continuar vivendo com um brinde! Não me manda mensagens românticas, coisa de dar boa noite. Mais uma dose!Não me cobra horário nem visita nem ligação nem sorriso nem cara bonita nem magrelices, se você puder então, não abra mais a boca...Seria perfeito, mas ninguém o é,... logo, mais uma dose!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Dois cafés e a conta por. Zé

-tá, senta aí, pede o nosso café, acendeu teu cigarro que eu vou te contar a história.
-sim.
-Pra resumir, eu me apresentei como Marina. Papo vai, papo foi, papo vem e vai. "é que... na verdade, eu não me chamo Marina..." E ele disse "Eu sei, você é irmã do Pedro, mas se parece mais com seu irmão mais velho que esqueci o nome e eu tava vendo até que horas você ia manter essa história escrota..."
-HAHAHAHAHAHAHAAHAHA, que ótimo, minha cara!
-é, ri mesmo, eu também morri de rir, acredite!
-ótimo. Mas não pare com isso, imagina se todos soubessem meu nome de verdade? E meu nome da poesia?
- Desde então não minto nomes. Mentira. Menti sim, mas isso é verdade.
-É melhor ficar com esse rótulo descartável. Eu minto. Você mente. Sabe a razão?
-qual?
-a gente mente quase sempre, porque a gente escreve e pensa que é poeta, poetisa.
E então, quando a gente, que se imagina poeta, sabe que o outro tem a mesma capacidade de imaginar e perceber as coisas como a gente,a gente tende a omitir, pra não mentir...
porque mentir pra quem pensa como você é burrice.
A outra pessoa sempre desconfia que acha que conhece a verdade por trás dos olhos.
Quem escreve, pelo menos eu, não gosta de ficar falando quando quer ser entendido...
Se fosse pra ser assim eu seria metido a ator,mas eu sou metido a poeta.
E eu imagino que as pessoas, assim como eu,entendam que eu precise silabar meus pensamentos.
-Mais um café, por favor! Mais um café pro mês que vem. Mês de Agosto, Agosto dos Deuses.

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