sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A escova de dente.

-Há uma tristeza que não vem cabendo em mim e teima em descer pelo canto dos olhos.
-descreva a sua tristeza
-tá.
Minha tristeza acho que veio de nascer.
Eu sou muito de outros tempos.
Não queria vir já, agora. Ainda me tenho presa no passado de forma que não consigo me adequar a essa realidade conturbada vivenciada hoje.
-como você vai comparar o tempo de hoje com um outro que você não viveu?
você não pode sentir saudade do que não viveu!!!
-o importante é sentir saudade.
Do que, isso já não importa. A saudade que eu tenho é de tudo que não vivi.De tudo que não existe ou nunca existiu.
A minha tristeza está em sentir coisas que não existem, apenas fazem ser sentidas.
-você vive fantasiando. Viver de fantasia nem sempre é bom,eu que o diga...
-e, se eu não fantasiar, viverei de que?
-você pode fantasiar, mas não viver de fantasia.
- vou viver do trânsito que tá parando a cidade olha o sinal fechado vamos embora logo tô com fome compra pão pra amanhã vou dormir cedo tenho que trabalhar e tem prova vou jantar com amigos oi, saudades, vamos marcar de nos encontrar então tá te ligo oi amor boa noite tchau mãe tô bem as crianças saem às 5h vou passar no médico e pegar seu exame morreu? meus pêsames gostava dela.
vou viver disso?
dessa realidade crua com gosto de asfalto e com cheiro de pasta de dente?
escova de dente.
escova de dente é a marca da rotina, do simples cotidiano.
-mas o cotidiano pode ser tão bonito.
Essa realidade não é crua.O tempero fica por sua conta.
Independente da realidade que você vai se encontrar, ainda sim, você vai ser uma pessoa com sentimentos.

Créditos: Lucas Senna.

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