terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Carta ao P. - V

Querido,

Nova Iorque e sinestesia. Um "e" com direito a todo acento que eu nao tenho aqui pra escrever.
Nova Iorque e sinestesia. Eu senti qualquer coisa na cidade, uma especie de emocao constante no peito, um afogamento de sensacoes, por isso eu digo: Nova Iorque e sinestesia. Porque sao todos os sentidos do corpo juntos e muito intensos o tempo todo, tal qual a cidade. Voce se afoga e se perde dentro de voce, nao consegue distinguir fome de choro.
Eu tive Nova Iorque pelos olhos de um novaiorquino tipico, o Marcus, meu primo. Primeiro fomos as galerias de arte. A rua eu nao me lembro exatamente, e a 24 com alguma outra combinacao de numeros ou palavras. Uma rua so com as principais galerias da cidade. Pequenas grandes galerias. Colorido. Eu fiquei surda com o colorido das pequenas grandes galerias da 24. Tanta coisa ao mesmo tempo, tanta coisa junta, tanta coisa pra sentir, pra ver, eu queria cheiro, gosto, cor, delirio e tinha tudo. Tudo junto. Todas as sensacoes.
Eu fui em uma peca, chamada "Sleep no more", algo bem diferente da Broadway, apesar de eu nunca ter ido a um teatro de la e ate querer, mas diferente. Sleep no more era uma peca em que voce entrava na peca. O lugar central era um cabare antigo, os atores misturados com o publico, sentados a mesa, bebendo. Havia uma mulher do cabelo enrolado cantando, um cabare. Piano, bebida e eu. Tudo em torno da decada de 50, presumo eu de um calculo de olhos pelas roupas e musicas. Ali, voce recebia cartas de baralho e conforme suas cartas era encaminhado para um lugar. Um predio de cinco andares, repleto de quartos e quartinhos e ambientes, cada um decorado de um jeito. Os atores ficavam rodando por esses comodos, separados ou nao, fazendo em cenas mudas, um teatro no meio de mim, passando por mim, correndo por mim. As cenas aconteciam e voce escolhia dali qual ator iria seguir, portanto escolhia as cenas que queria ver, desordenadamente, criando qualquer coisa na sua cabeca. A decoracao dos ambientes, que depois eu fui ler, eram mais de cem, era impecavel. Uma atmosfera as vezes melancolica, por vezes macabra e por outras quase alegre. Uma verdadeira palheta de emocoes, como a cidade. Eu vi mulher tomando banho, nudez, sexo, amor, danca, morte, sangue, dor. E senti tudo isso junto, acompanhada por uma mascara e por nao poder me comunicar com os outros em momento nenhum. Incrivel.
Eu tambem fui ao MoMa, e tive vontade de sapatear de alegria,gostei demais. No gugenheim estava rolando uma exposicai inexplicavel, mas por assim ser, voce vai ver a porcao de fotos que tirei. Maurizio Cattelan. Um monte de coisa, tudo o que voce pensar, pendurado do teto ao chao , pelos seis andares vazados pelo circulo que forma o museu. Do teto ao chao, coisas chocantes, amenas, gostosas, tristes.
Eu estou ansiosa para te mostrar todas as fotos e poder te explicar cada detalhe.
Mas acho que foi isso, Nova Iorque e emocao demais, por todos os poros, com todas as coisas. E cheiro, gosto e visao.

Um beijo com todos os sentimentos do mundo, da cidade que tem todos eles.

Ps: acho que essa carta nao ficou tao poetica. Sempre que eu fico assim, com sentimento demais, e varios tipos dele, parece que nao consigo passar claramente e ordenamente as coisas. Ny faz isso, esse turbilhao.

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