sábado, 7 de janeiro de 2012

Carta ao P. II

Querido,

Muita coisa aconteceu desde a minha ultima carta, mas eu continuo sobrevivendo, na verdade, amanha faz uma semana de sobrevivência, neste caso, passo a desconsiderar o que se chama de sobre-vivência, como algo em excesso, algo além, e passo a considerar que começo a vivência, em si e toda ela.
Sem querer te preocupar, te explico que no começo foi difícil, um pouco de solidão e uma leve agonia, nada que não passe e que depois que passa nos traga uma sensação de crescimento, como se algo tivesse sido rompido dentro de si. Como eu escrevi esta semana para a Aline, tratou-se de um tempo de extremo auto-conhecimento. Foi uma luta diária do eu contra o mim mesma. Acredito que o que esteja havendo por aqui não seja algo ligado apenas ao intelectual, mas há qualquer coisa de espirito, de amadurecimento, de vida nisso tudo. Sinto uma mudança interna, cultivo a esperança de que isso me deixara ( no futuro mesmo e com acento) mais paciente e tolerante, qualidades que muito me faltaram neste final de ano. A maré parece que começa a virar, não sinto mais tanto frio e sinto-me melhor no meu lugar no mundo hoje: em Boston. Entretanto, não posso esquecer de te contar que lá pela quarta me dei conta de que fazia dias que não abraçava. Isto me incomodou demais, nunca reparei quanto tempo eu havia ficado sem abraçar no Brasil e tentei me recordar, não conseguia, mas imagino mesmo que não chegue a ser um dia. De repente, algo que eu aparentemente fazia por osmose, pegou-me de jeito, eu comecei a ficar verdadeiramente incomodada com a falta de abraço, e comecei a só sentir aquilo, como uma dor, coceira ou qualquer coisa que você sente o tempo todo involuntariamente. Foi quando eu encontrei uma menina que eu havia conhecido no dia anterior, ela era do Uruguai e eu sabia que ela me entenderia se eu fizesse isso: quando ela se aproximou para dar dois beijinhos de bom dia, eu pá: tasquei-lhe um abraço.
Além do abraço, confesso um saudosismo gostoso quando você falou da, agora minha, cidade do Rio de Janeiro nesta época. Eu me lembro, a cidade neste período do ano exala esperança e é magico demais sentir isto de perto. Esses dias eu me peguei sentindo falta de vestir apenas chinelos, um short e camiseta e sentar em um bar, com apenas uma camada de roupa, tomar uma cerveja gelada e só.
Bom, preciso ir, o pessoal que conheci me espera na estação para um passeio por Harvard, mas isto já é assunto pra outra carta.

Sinto falta de você e do Rio,

Beijos com amor.

Preta.

Ps: sobre você neste ano, eu já disse, você possui muito preciosismo na cabeça para se deixar assim, ser engolido pela rotina. Você merece mais, foi por isso que eu me apaixonei.

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