terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Carta ao P. IV

Meu bem,

Desculpa a demora, acho que a ultima carta que enviei foi no final de minha primeira semana, desde entao muita coisa aconteceu, mas foi por isso mesmo que nao tive tempo de escrever. Hoje voltando pra casa, na volta que faco sozinha por uma rua cheia de casinhas americanas com jardim na frente, chamada Langley Road, eu pensei em tudo o que tenho pra te contar.
Eu tive pessoas aqui, sim, eu tive, porque voce passa a ter alguem quando voce sente qualquer coisa boa no coracao, e e muito engracado ter pessoas em outra lingua, porque as vezes voce nao consegue dizer o que sente, e na verdade nao precisa, mas voce sabe que sente, e a outra pessoa tambem. Eu conheci a Gizem, uma menina da Turquia, mas que na verdade tem os pais nascidos na Bulgaria. Ensinei pra ela o que significa a palavra saudade, mas ela disse que vou mesmo ensinar quando for embora. Tentamos trocar musicas - Turquia x Brasil, mas na verdade descobri que ela tambem ama o filme da Fridah Khalo e aquela musica Paloma Negra. Mostrei pra ela cucurucucu Paloma, ela ja tinha visto o filme, mas nao lembrava da musica. Eu disse que era o meu favorite brazilian singer que cantava no filme. Desde entao, Gizem fica cantarolando cucurucucu...pelos cantos da universidade. Teve um dia, acho que foi ainda na segunda semana,sentamos no sol, depois do almoco e ficamos ouvindo Paloma Negra e depois cucurucucu Paloma, enquanto os asiaticos e arabes passavam pelo campo verde, ainda sem neve naquela epoca. Mas nao sabiamos o que significava Paloma, e foi a Vale, uma graciosa menina do Uruguai que nos explicou. A Vale foi a minha primeira amizade aqui, no primeiro dia nos ja nos olhavamos e riamos, sabendo do que estavamos rindo sem precisar falar nada. A Vale tenta me explicar algumas coisas de fotografia, do curso que ela fez, apesar de estudar Contabilidade. Ela tirou otimas fotos minhas nessa viagem. Enfim, foi andando hoje na volta, pela Langley Road que eu pensei em todas as pessoas que eu tive aqui e me senti com o coracao apertadinho de deixa-los daqui alguns dias. Eu sei e digo, estou morrendo de saudade de voce, do sol e de tomar uma cerveja gelada vestindo camiseta, mas quando penso que provavelmente nunca mais verei aqueles rostinhos de olhinhos puxados me dando good morning no frio, e os arabes tentando me explicar como tudo acontece no mundo deles, enfim, sinto uma coisa. E uma coisa misturada de bom e de ruim, mas acho que e "mais bom" do que ruim, porque significa, de uma forma ou de outra, que tudo foi bom.
Falando nisso, eu estou devendo te contar de Nova Iorque. Pra isso, vou fazer uma carta so.
Por agora e so, uma nostalgia antecipada qualquer, e uma felicidade. As pessoas sao muito boas comigo, Thiago, e eu quero ser muito boa com elas tambem.
Beijo enorme,

Isa.

Seguidores