domingo, 6 de novembro de 2011

Planeta

Depois eu falei pra ela que não devia ser por conta do inferno astral, porque estávamos em novembro e eu fazia anos só em fevereiro. Naquela noite eu tava pra acreditar em astros, fazia parte do papo. Acho que era por conta da música. Começou a tocar Caetano. Na verdade começou com Chico, eu comecei. Eu disse que de uns anos pra cá, desde que eu havia me apaixonado pelo Caetano, acabei deixando o Chico "num fundo de armário, na porta restante milênios, milênios no ar" , ela riu. Eu tava tentando selar qualquer tipo de paz entre mim e o Chico, a música dele, voltar, renovar votos, essas coisas.
Acho que começou então por conta da música, eu não tinha bebido. Começou com Chico, então, Caetano, Mutantes, e eu tive que soltar a minha frase de efeito de sempre: Eu queria ser a Rita Lee nesse tempo. O que é uma bobeira porque eu, que tenho medo até de tomar ônibus à noite, ia lá mesmo tomar ácido naquele tempo?
Mas aí vem a melancolia de sempre. Uma coisa que eu sinto nessas épocas em que me fixo muito nas coisas dessa época. Os sessenta. 67, 68. Depois vem 70 e pronto. Daí pra frente minha cabeça ficou ruim de acompanhar. Mas eu sofro muito com isso. Sofro um sofrimento de verdade, de dor, de angústia, qualquer coisa no peito mesmo, que me abafa e traz vontade de choro. Um sofrer de querer viver naquela época, acho bobeira falar, meio clichê pra qualquer jovem descolado da minha idade, mas eu sofro, juro.
Eu, que estava ligada em astros naquela noite, e com a música, pensei que esse fenômeno da cultura hippie e cultural e etc, que houve, deve ocorrer em vários planetas de tempos em tempos, deve fazer parte da história-revolução-evolução de todos eles. Pensei em reza, disse pra ela que de tamanha angústia eu ia rezar naquela noite. Queria viver qualquer coisa dessas em outro planeta que fosse, em outra vida, carne, encarnação. Ia querer conhecer o Caetano de lá. Se fosse em outros tempos, eu sei que eu canto mal, mas podíamos nos conhecer por qualquer coisa e aí iria haver tanto cabelo trançado, tanta perna, coisa toda. Vou aguardar outra vida.

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