segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Domingo

E então eu, uma menina de uma família de cinco, que tem três sendo homens viciados em futebol, reservei-me a missão de odiá-lo, visto que ele estava o tempo todo na família na casa na rua na chuva ou na fazenda.O futebol sempre foi o meu “barulho de domingo”.Eu associei, por muito tempo e talvez ainda, o domingo ao futebol, ou melhor, ao barulho, ao ruído, ao chiado insuportável de.
Apesar de tudo isso, sempre cultivei a vontade de ir ao maracanã. Eu falava que queria ver a energia, a muvuca, o tumulto, os gritos, as paixões tão solidificadas como parecia ser.
Foi então que como uma experiência antropológica, eu fui.
Além de achar bonito e emocionante, desde a entrada, até quando vai subindo pra arquibancada e se vê de fora aquela pontinha de um mundo de gramado, além de, há algo que preciso muito falar.
Estava eu no jogo, tentando entender o jogo pelas cores das camisas e tentando descobrir sozinha onde o time tinha que fazer gol, quando aconteceu.
O gol.
Eu não estava ali por um time, assim, de verdade...
Eu sempre falo que sou botafoguense para tentar suprir o trauma do meu pai em ter um filho flamenguista e outro tricolor. Mas a verdade é que eu nunca assumi um time, nunca amei um time, etc.
Eu estava na torcida (linda- desculpa, pai)do fluminense e, dessa forma, mesmo que eu não torcesse, eu tinha que fingir que.
Mas eu não fingi, eu torci (desculpa, pai).
Enfim, sem mais digressões: Eu tava ali no maraca, na torcida do Fluzão, vendo o jogo e saiu um gol.
Quando eu vi, eu tava gritando e comemorando. Acontece que eu senti.
Eu senti uma coisa muito delícia, não sei o que. Eu só sei que foi assim que eu entendi a paixão que as pessoas tem pelo futebol, pelo seu time, etc.É que a partir daquilo, eu passei o resto do jogo todo sofrendo e lutando muito pra sentir aquilo de novo.Eu só queria um gol, só isso.
Eu não sei por que eu queria um gol, não sei qual o fundamento filosófico ou social de um gol. Sei que um gol não vai diminuir a fome na África, nem vai ajudar na análise sobre os meninos de rua, nem vai fundar uma teoria sobre sobre sobre nada. Eu sei que eu não via função social no gol,nem nenhuma função de coisa nenhuma, mas eu o queria. Eu o desejava de uma forma mais intensa, como se tudo que eu quisesse naquele momento fosse só isso: um gol.
Era um desejo cru,e eu acabava achando isso muito bonito em mim.
A conclusão é que eu não sei se foi só uma experiência antropológica válida, se eu tô me rendendo ao futebol (droga, não quero!), ou se eu sei lá.
Eu só sei que ontem eu fui ao maracanã de novo, pra sentir de novo o que eu senti. E o flu fez três, e eu fiquei feliz.

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