A verdade é que há momentos de exaustão.
Surge em mim um cansaço muito grande provocado por sucessivos desapontamentos com a raça humana.
Raça essa, que não deixa de ser bonita, viva, colorida, ativa, interessante. Mas hoje, hoje não.
Hoje estou ainda um pouco intimidada por pessoas. Sinto-me acuada em uma redoma de razão, de várias razões e conceitos rígidos que criei para um abrigo todo meu.
Um abrigo que hipoteticamente me conforta.Não, não conforta.
Estou nutrindo um certo desdém por ser gente.
Por ser. Pelo ser. Pelo humano. Pelo pessoa.
Acho que vivendo, deve ser uma das piores sensações.
Nutrir desdém pela raça humana e ser humana é nutrir desdém por si,
é um soco no espelho.
Mas reconheço que cada decepção tem uma carga de culpa pessoal.Sendo humana, faz-se normal acreditar nos outros, confiar, dar a mão e, dentro disso, cria-se uma expectativa de correspondência sentimental.
Mas sentimento não se mede. Nunca se sabe se as paixões e os amores se equivalem ou,pelo menos, aproximam-se.Nunca vai saber.
Coisas que não existem de forma tangível como o sentimento, ou como a dor não entram em escala de medida.
Cada dor é única, cada sentimento é inédito no mundo metafísico das dores, ou dos sentimentos.
A verdade é que há momentos de exaustão.E esse é o meu.
Assombrada pelo humano, surge em mim um sentimento de me animalizar, de me zoomorfizar.
Trancada em minha mente, esquecer o código da linguagem. Parar de falar, de pensar, de escrever.Viver instintivamente. Sem hipocrisias, sem tentativas de sorriso,
sem ser gente.Ser bicho.