domingo, 25 de abril de 2010

E os dias passaram a se passar assim.Preocupava-se em desarrumar a cama para ter que arrumá-la.Comer para abrir o apetite e ter que gastar tempo com a louça.(Por vezes, até chegou a lavar a louça mais de uma vez, na cisma de achar que havia uma mancha, gordura grudada, cheiro estranho.)
Dormia para ter que acordar
e gastar um tempo de reconhecimento da casa.Móveis cheiros lugares.
Ia à cozinha, virava a jarra d’água em um copo.Tomava.Sentava para tomar.Quem senta sozinha em sua própria cozinha para beber apenas um copo d’água? Mas tudo fazia parte da espera.Depois gastava um tempo com o banho, arrumava-se.
A espera:
(Desde que havia discutido e se privado do contato com os vizinhos, além da caixa de supermercado – trinta reais, senhora. Aquele era o contato mais próximo com a função de receptora da linguagem.)
Ela não sabe quando essa espera começou mas, sem sentir, por causa dela, passou a jantar mais cedo.Assim, dava tempo de lavar a louça, ajeitar a manta no sofá e, finalmente, ouvir:
-Boa noite!
Ao ligar a tevê, no jornal.

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