domingo, 15 de novembro de 2009

Carta ao leitor

Querido José,

Acabo de chegar em casa e já te escrevo ainda com fome, visto que já passa do meio-dia.Escrevo-te como que pra me desafogar do que passei ainda pouco. Venho de uma ciranda linda de teatro que aconteceu ainda ali, na praça da minha cidade.Fomos em procissão,saindo da Igreja Matriz, passando pela antiga Estação e saindo no Parque Centenário, a Floresta Amazônica da pequenina Barra Mansa.Escrevo pra te escrever o que foi que vi. Lindo.Gente cheia de panos, cheia de cores.Havia tambor e batuque, havia caboclo, havia tipo capoeira, havia Santa Luzia, havia sangue,
havia tanta vida, José, que eu nem sei mais se vivo de verdade.
Chorei naquele começo, quando eles falavam do jagunço, da gente que nasce da poeira, de Canudos.
Canudos não se rendeu,José, não se rendeu.
Chorei porque foi Euclides da Cunha,porque foi uma criança,órfão sobrevivente do sangue,
Chorei porque era voz de um jaguncinho. Foi muita cor, Zé, muita cor.
Chorei porque parece que perdi muito tempo enquanto eu podia estar ali um dia também, não fosse o passado e a pior dor é a do arrependimento.
É chegada a hora, José. Eu preciso partir.Foi por isso que fui pra capital e larguei aquele antigo sonho do qual você ainda faz parte.É chegada a hora. Eu preciso me render a essa coisa que me faz chorar e ficar do jeito que fico, sem conseguir apagar o riso.Não, não penso em largar as leis. Gosto delas, até posso dizer que estou me apaixonando por elas.Elas também já me fizeram chorar de beleza.Elas são meio pálidas, eu sei,ou melhor, elas são cinzas, não, elas são preto e branco. Não têm cor, mas eu gosto delas.Não penso em largá-las, mas preciso viver isso que digo, a cor, o som, e aquele cheiro que sinto desde pequena desse lugar.
Desde pequena...

Obrigada por me ouvir, José.
Um beijo,

Isabela

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