Porque eu via de novo aquele casal eu deveria escrever sobre ele.
De novo os dois. Quando eu os vi pela primeira vez, ela linda com um sotaque nordestino quente chamando ele de alguma dessas frutas exóticas. Ele muito bem portado como macho, forte sem ser forte, forte no jeito e no olhar e nas mãos. Eu gostei deles de um jeito que parecia que eu já os tinha visto, em algum lugar de mim, de imaginação, de personagem. Eu quis escrevê-los, mas desisti por não querer só citar a cena do elevador. Os dois muito quentes em um julho de copacabana com vento. Os dois tinham uma energia sexual muito forte pra caber dentro daquele elevador comigo, e isso chegava a me incomodar. Incomodava de um jeito que eu precisava escrever sobre o tom do sotaque dela quando abria uma boca muito grande e bem formada pra chamá-lo de uma fruta bonita do nordeste que já nem me lembro, e também sobre o jeito forte dele, eu já disse, das mãos. Mas eu desisti de escrevê-los, tão bonitos que eram, deviam ser desenhados, não escritos. Até que eu os vi de novo, com mais um. Falavam de teatro, atriz, de certo eram artistas. Abaixando os olhos, ouvia a conversa mais confortável com a minha roupa mais informal dessa vez. Queria lhes contar que eu também queria ser artista e que eu também era bonita com meu par no elevador, embora não tivesse sotaque.