domingo, 26 de dezembro de 2010

a Lapa do homem de Marília.

Eu era um homem recém feito quando Marília me tomou pela mão e foi me mostrar a Lapa. Menino meio abobado que era, me via nos braços de uma mulher pela primeira vez, e eu ainda me via meio zonzo sem entender coisa com gesto.
Entendi a vida quando Marília meio de brincadeira me colocou dependurado no bonde de Santa Teresa.E eu daquele jeito de menino tonto, que vinha do interior.
Entendi a vida quando o bonde passou por de cima da Lapa.
Vi as casas e dentro delas : as pretas, os peitos, as crianças, as cores. Entendi gente.
Dava pra sentir o cheiro do perfume da mulher na janela da criança que deixava por escorrer um catarro do nariz ali embaixo da marquise pra quem quer deitar.
Ouvi cada chiado de rádio dentro da janela do homem que fumava lentamente enquanto suavam as bicas dos seus poros muito dilatados.Mas pude ouvir o arranhar dos saltos de quem andava na calçada lá embaixo e o tilintar de qualquer coisa feito chave ou feito moeda no bolso do rapaz trabalhador. Senti cheiro de sexo e cheiro de pudor.
Foi ali que vi a vida pela primeira vez , crua.

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