sexta-feira, 7 de maio de 2010

A viagem.

Eu vi um corpo.
Eu vinha em pé e eu não veria o corpo.Minhas costas veriam o corpo, mas um lugar vagou, e eu sentei e, sem saber, preparei-me para no futuro ver o corpo.
Vínhamos e olhamos como quem olha qualquer batida-acidente-obra que engarrafa e pára o fluxo dos automóveis tão cedo ainda para ter trânsito, e ao lado ele disse o trânsito daqui já está parecendo com o de São Paulo,e quando passamos e olhamos, eu vi.
Eu vi o corpo e ao lado ele disse tá embrulhado, e estava.Mas eu não pude deixar de ver os sapatos do corpo.Eu vi o corpo como quem vê uma maçã.
E depois, quando o corpo já se tornara passado, pelo trânsito e pela morte,eu ainda pensava.
Pensei no corpo que pela manhã calçou-amarrou-olhou aqueles sapatos.Pensei que eu poderia estar na van, pensei que eu poderia estar no táxi, pensei que eu poderia estar no corpo.Mas o corpo não mexeu comigo.O corpo não pode mais se mexer. O corpo está morto.
E o corpo que agora já não era mais alguém.Era um corpo, era embrulhado, tinha sapatos.Sapatos que eu vi.
Eu vi um corpo.
Eu acho que tenho vivido como um corpo, sem ser alguém, pois sendo corpo.

"Morreu na contramão atrapalhando o trânsito"

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