quarta-feira, 5 de setembro de 2012

surdez

Às vezes gostaria de perder todos os sentidos. Cega surda muda. Às vezes sinto uma tristeza que me ensurdece toda e também me deixa muda. Mas continuo vendo e, por ver, sorrio. Escrevo de frente pra uma janela larga onde agora moro. Larga e branca, bonita no alto da avenida movimentada do bairro mais movimentado aqui da capital. Gosto do jeito dela, gosto tanto que não fecho as cortinas, não é preciso fechar. Coloquei uma planta na beira, uma onze horas, casou bem com a brancura e a largura da janela. Mas às vezes, quando não olho para a janela larga e branca, gostaria de perder todos os sentidos. Hoje aconteceu: após entender que gostaria de me fazer perder os sentidos, tive de ir ao supermercado para cumprir as coisas casuais. Uma fila, uma fila inteira no supermercado inteiro. A mulher em minha frente não parava de falar comigo, abria as mãos e mostrava para mim as linhas que haviam nelas. Falava umas coisas em que eu só entendia a palavra vítima e depois me mostrava uma pulseira de identificação em seu braço. Ela repetiu essa sequência de movimentos seis vezes, eu contei, eram iguais e eu juro. Mas eu não entendi nada. Eu não entendo nada. Eu estava surda.

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