Nascemos só e vamos morrer só.
A saída do útero é completamente solitária, embora por vezes
haja o amor.
A vida segue de forma a te fazer esquecer que, na verdade, é
só você.
Estamos todos sozinhos nessa massa coletiva que se ajeita no
vagão do metrô, nos bares em noite quente, no supermercado Mundial às 18h, nos
elevadores ou nos velórios.
A verdade é que a solidão é contínua e nos segue por toda a
vida de forma escondida.
Primeiro há o cerco da família, e depois é preciso uma
porção de amigos, e depois menos amigos, mas bons, e depois vêm os filhos os
netos os bisnetos.
Mas é nesse meio de tempo, na gritaria de quem compra ouro
na Siqueira Campos, de quem atravessa a Presidente Vargas quando o sinal fecha,
ou no Carnaval em Salvador, cedo ou tarde, que chega o momento em que nos damos
conta do inevitável: estamos todos sozinhos. Somos um e único que sabe das
próprias e verdadeiras dores, que vai sentir sozinho que no mundo é só você
contra você mesmo.
Há quem tenha, nessas horas, suas pequenas epifanias. Há
quem entre em desespero, há quem se mate, há quem deprima, há quem se sinta
verdadeiramente liberto.
O fato é que o ser humano nasceu de viver junto, de se
aglomerar nos grandes centros, de querer morar um em cima do outro, de ter
carro pra mais de um, de fazer filho, de ter gente. Por isso é que essa
descoberta assim, tão de repente, pode acabar com um coração.