segunda-feira, 25 de junho de 2012
Ficção científica
Não tenho escrito, com isso deixo morrer uma porção de histórias que nunca existiram. que nunca existirão. Eu estava com a cara toda prensada em uma máquina que faz radiografias faciais quando me dei conta disso. Vinha um ferro prendendo minha testa, outro freio no queixo, de forma que paralisava minha cara toda. Eu, por minha vez, ficava diante de uma superfície laminada, quase um espelho, um tanto mal acabado, enquanto qualquer coisa girava indo e voltando pelo meu rosto, na tentativa de me radiografar. Uma mulher falando em inglês dava voz para a máquina. O espelho que me refletia completamente de frente me vazia crer que nunca tinha me olhado tão de frente. Meus olhos muito esbugalhados pareciam me mostrar que só naquele espelho eu conseguia enxergar a diferença enorme de tamanho entre eles dois, a diferença que minha mãe tanto fala. Minha boca semiaberta, os ferros emoldurando meu rosto, uma ficção científica de mim. Tudo parado em busca da radiografia perfeita, menos meu cérebro. Naquele minuto de paralisação eu sentia o pulso, o desenrolar fluido do sangue pelo meu corpo, bolhas, respiros. E minha cabeça que não para, minha cabeça nunca para, minha cabeça ainda vai me matar. Ela e toda a minha culpa por matar essas histórias que andam por mim e depois vão embora, porque não tenho escrito.
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